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Meu artista favorito anunciou um projeto paralelo; devo me preocupar?

Imagina só… Não ter o compromisso de lançar algo pensando somente no sucesso de vendas, público ou crítica. Ou então: resgatar as músicas que ficaram no fundo da gaveta, entrar num estúdio e começar a gravar do seu jeito, sem interferências de companheiros de banda ou da gravadora. Melhor: ter a opção de tocar em lugares intimistas, em vez de grandes arenas mundo afora.

O anúncio de um projeto paralelo pode causar um frio na espinha em grande parte dos fãs, mas é algo natural/necessário para o processo criativo para muitos artistas.

É o momento de ruptura do que ele anda fazendo nas últimas temporadas para se arriscar e buscar elementos novos que poderiam ficar fora de contexto em sua carreira original. Esta válvula de escape não indica um desgaste ou crise de sua banda favorita, mas uma etapa essencial para pensar no que ela pode fazer para frente.

Na última sexta-feira foi lançado o segundo disco do Beeshop, alterego cantado em inglês de Lucas Silveira, conhecido por tocar guitarra e cantar no conjunto musical Fresno.

Por muito tempo, ele e sua banda foram tidos como uma banda emo que tinha prazo de validade determinado para vencer. Quando veio o boom de franjas escorridas na testa, a Fresno estava no meio acertando hits, tocando em rádios e, aos poucos, criando uma base de fãs. Muitas bandas daquela época acabaram, entraram em hiato ou, simplesmente, não conseguiram renovar a base de fãs.

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Lucas sem e com a Fresno

O Fresno conseguiu e muito disso por conta das aventuras musicais de Lucas. Além de liderar o grupo de pop rock, o rapaz é um rato de estúdio e assinou produção de alguns nomes como RPM, Jéf e, claro, de sua própria banda.

Estava lendo umas entrevistas da época que o primeiro disco foi lançado e a principal pergunta das publicações era saber se a Fresno continuava. A explicação de Lucas era quase a mesma: as músicas não tem a ver com o que faço por lá e resolvi gravar. Ainda lembro do álbum ganhar menções honrosas na lista de melhores do ano e arrancar elogios de quem torcia o nariz sobre a banda que ele faz parte.

Pitty e seu Agridoce

Após três discos de grande sucesso, a cantora Pitty resolveu soltar algumas cantigas no quase finado Myspace (a página deles ainda está por lá – https://myspace.com/somagridoce) de um projeto ‘fofolk’ chamado Agridoce. Ali era o terreno onde ela e o guitarrista Martin Mendezz tinham espaço para usar viola, piano e alguns elementos da natureza – a gravação do projeto foi feita numa casa na Serra da Cantareira, zona norte de São Paulo.

A inspiração para as composições melancólicas vinham de nomes que sempre estavam na vitrola da dupla como Nick Drake, Velvet Underground, Serge Gainsbourg. Por mais que o Agridoce não tivesse o ‘punch’ que a Pitty tinha com a sua banda, o projeto tomou forma e começou a se destacar. O Agridoce começou a tocar em rádio, ter apresentação com ingressos esgotados e, junto com isso, a pressão por músicas novas de fãs e imprensa. Não demorou muito para a cantora dizer que o projeto iria entrar em hiato e, sendo assim, voltar para as atividades com os seus companheiros de banda.

Deve ser estranho para um artista ver um projeto que ele montou para tirar férias do cenário que está vivendo, começar a ganhar relevância e ficar grande.

Aconteceu também com o Blur

O Blur é uma banda que tem ótimas credenciais. Eles têm discos que ajudaram a moldar um gênero que ficou muito popular nos anos 1990, chamado Britpop. Desde o seu primeiro trabalho, lançado em 1991, os meninos entregaram obras cruciais que impactaram no som que estava sendo feito na terra da rainha e até na linguagem de clipes que rolavam na MTV.

Após seis discos na bagagem, o Blur resolveu descansar um pouco, mas sem anunciar hiato logo de cara, que aconteceu em 2003. Damon Albarn e Graham Coxon, integrantes resolveram tirar do papel um projeto que eles tinham começado a bolar em 1998, o Gorilla.

Sim, na época não tinha o Z no final. Um projeto diferente do que faziam no Blur e com forte apelo visual. O que era para ser uma reunião de amigos para fazer um som diferente, tomou proporções gigantes.

No primeiro lançamento do EP do Gorillaz, eles tinham pomposas propostas para lançar discos e turnês em lugares como Tóquio. O primeiro álbum lançado por eles alcançou a expressiva a marca de cinco milhões de cópias. Sem contar que os itens relacionados ao grupo 2D viraram itens de colecionador a serem disputados a tapa no Ebay. A fama dos Gorillaz foi tão grande que tem alguns’ fãs’ não fazem ideia que o projeto nasceu ainda no Blur.

Miley Cyrus depois de “Bangerz”

Ter um projeto paralelo pode ser usado para extravasar e mostrar o que o artista quer realmente fazer. Depois do lançamento de Bangerz, os fãs e a imprensa acharam o disco de Miley Cyrus diferente demais. Onde foi parar aquela bela guria que tinha um cabelão, andava comportada e cantava refrões grudentos?

Ela prosseguiu sua experimentação musical com o projeto Miley Cyrus & Her Dead Petz, uma banda psicodélica de rock feita com alguns amigos dela como Sarah Barthel, Ariel Pink e Wayne Coyne, dos Flaming Lips. A quebra neste disco foi muito grande. Era para ter saído como um disco de Miley, mas a gravadora dela barrou. A alternativa foi abdicar os ganhos com este trabalho e soltar de graça na web.

A grande sacada de ter um projeto paralelo é poder criar novas habilidades fora do seu hábit, mostrar para o grande público influências que ficam de fora de álbuns rotineiros e esquecer um pouco do processo que anda fazendo, pensar fora da caixa. Criar um projeto zero e ver o que vai dar não é uma tarefa fácil. Sair de uma zona confortável e experimentar, pode causar estranheza para os seus ouvidos, mas pode ser um bom caminho para o seu artista se renovar.

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O jornalista paulistano, produtor musical e marketeiro Brunno Constante analisa, pondera, escreve e traz novidades sobre música no Papelpop todas as terças-feiras.

Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.

Quer falar com ele? Twitter: @brunno.

* A opinião do colunista Brunno Constante não necessariamente representa a opinião do Papelpop. No entanto, por aqui, todas as opiniões são bem-vindas. :)

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