Ao entrar no set de gravações de “Rocketman”, cinebiografia do rei Elton John que chega aos cinemas no próximo dia 30 de maio, nós tivemos a impressão de ter embarcado em uma viagem no tempo. O longa narra em detalhes como um jovem e tímido pianista se converteu em um gigante da música internacional, arrastando multidões nas décadas que se seguiriam e cravando seu nome nos anais da história.
Naquela ocasião, ficamos logo de cara deslumbrados com a riqueza de detalhes empregada na confecção dos figurinos e nos demais itens utilizados na produção de Dexter Fletcher. São peças que não somente marcaram época, mas que também ampliaram as dimensões do que representa a figura de Elton John. Foi a partir deste mesmo estado de encantamento que um episódio do passado surgiu em nossa memória.
Neste vídeo, por exemplo, dá para se ter uma dimensão um pouco mais ampla sobre como as peças conferem mais vida à produção.
Enquanto isso na vida real, no alto de 1988, o cantor havia acabado de completar quarenta anos – data que é considerada para muita gente um ponto de virada. Só para corroborar essa tese, cabe citar um exemplo clássico. Lembra quando a Madonna chegou a essa mesma idade, foi mãe e se envolveu com a Cabala no fim dos anos 1990? Ela traçou uma mudança radical no foco de seus trabalhos e com Elton não foi diferente.
Certa tarde, caminhando por sua casa em Londres, o astro deu olhada a sua volta e percebeu a quantidade de coisas que acumulava. A residência estava tão abarrotada de objetos que em determinado ponto foi necessário pedir ajuda para que um espaço fosse aberto nos corredores que davam acesso ao seu quarto. A partir daí suas atitudes e os excessos do materialismo passaram a ser repensados.
Elton quis começar tudo do zero e esse estalo serviu como estopim para que um leilão fosse marcado. Talvez você já tenha se perguntado sobre o tipo de objeto que esse local abrigava, afinal, encher uma sala de tralhas é algo bem normal. No entanto, os itens reunidos ao longo dos últimos vinte anos nesse espaço eram de altíssimo luxo e somavam uma verdadeira fortuna. No fim das contas, o tal “bazar do desapego”, se é que pode ser chamado assim, rendeu cerca de US$ 6 milhões de dólares (montante que hoje, em linhas gerais, equivaleria a aproximadamente R$ 24 milhões).
Querendo se tornar alguém “ultramoderno” e seguir sua vida a partir de então em um viés minimalista, Elton convocou a casa de leilões Sotheby’s. Com eles, agendou quatro dias no mês de setembro que seriam usados para vender tudo em algo que teoricamente, funcionaria mais ao menos ao estilo das clássicas vendas de garagem – o que, obviamente, não funcionou como o esperado. Imagina só ter em casa uma verdadeira horda de 2000 itens catalogados?
Para que o público pudesse ter acesso a uma prévia do conteúdo e especulasse futuras possibilidades de compra, o Victoria and Albert Museum de Londres, considerado a maior casa de artes decorativas e design do Reino Unido, dispôs-se a abrigar um quarto das peças em uma sala em suas dependências. O que tinha lá? Minha nossa… para começar, uma pintura do artista belga René Magritte, mestre do movimento surrealista. O quadro em questão, “Homage to Alphose Allais”, trazia um peixe nadando envolto em um cordão de perolas.
Além da obra, também foram catalogadas gravuras de Rembrandt e Pablo Picasso. Já pensou em ter um frasco de cristal por René Lalique, criador dos frascos modernos? Quem viu as relíquias de perto disse que tudo parecia extremamente berrante, bizarro e peculiar, embora ao mesmo tempo fosse absolutamente belo. O próprio presidente da Sotherby à época, Lord Gowrie, descreveu a residência como “uma caverna de Aladim” ou “uma loja mágica de brinquedos” hahahaha
Também foram colocados à venda todos os discos de ouro do cantor – que não eram poucos, afinal de contas estamos falando de um hitmaker – artigos raros de suas turnês anteriores que iam de crachás a figurinos e, pasmem, 100 dos seus pares mais clássicos de óculos, incluindo modelos com plumas, mini-lâmpadas coloridas e seu mais emblemático acessório, que trazia seu próprio nome escrito.
Elton , a propósito, tem como marca registrada seus looks extravagantes. A gente ficou se coçando aqui pra saber quais foram incluídos nessa lista.
Pensa que acabou? O artista também se desfez de 36 esculturas de bailarinas em estilo Art Deco, estátuas feitas com marfim e metal, coleções gigantescas de relógios, artigos feitos com vidro e luminárias originais da Tiffany’s, tradicional galeria eternizada por Audrey Hepburn no filme “Bonequinha de Luxo”, lançado em 1962. Houve também espaço para uma série de figurinos assinados pelo estilista Raoul Dufy, que ostentavam bordados exóticos, bules com estampas de carros de corrida confeccionados na década de 1930, caixas ornadas de pedras preciosas e, não menos importante, jóias utilizadas durante sessões fotográficas que deram origem a algumas das capas de seus álbuns.
Também havia no local uma mobília assinada pelo decorador italiano Carlo Bugatti, que talvez fosse seu maior tesouro. Sem fazer ideia do que estava comprando e em como seus pertences seriam valorizados anos mais tarde, Elton soube aproveitar a oportunidade de venda e quis chamar a atenção para valer. Foi então que, antes que todo mundo pudesse ter acesso aos itens, ele também reservou um dia inteiro para que críticos de arte de países como Japão, Estados Unidos e Austrália pudessem visitar e conhecer profundamente seu nada singelo catálogo.
Nem precisamos dizer que tudo foi um sucesso e superou as expectativas, né? Embora houvesse quem achasse aquilo uma loucura e saísse por aí dizendo que o cantor agia como uma criança mimada, a gente discorda. Na real, isso só evidencia como o bom gosto de Elton John vai muito além de suas escolhas musicais.
“Rocketman”, cinebiografia do astro, chega aos cinemas de todo o mundo no dia 30 de maio. É bom se preparar assistindo ao trailer: