O jornal The New York Times publicou nesta quinta-feira (05) uma longa matéria sobre o famoso e influente produtor de Hollywood, Harvey Weinstein, na qual várias mulheres o acusam de assédio sexual.
Fundador da Miramax e da Weinstein Company junto com seu irmão, Bob, Harvey produziu sucessos como “Pulp Fiction”, “Gênio Indomável”, “Shakespeare Apaixonado”, “Gangues de Nova York”, “O Lado Bom da Vida” e “Django Livre”, entre vários outros. Poderoso, ele faz campanhas para prêmios, consegue roteiros, papéis, acordos, propagandas e influencia Hollywood de várias outras maneiras.
A matéria começa com um depoimento da atriz Ashley Judd, que já havia falado dois anos atrás sobre ter sido assediada por ele, mas sem citar nomes. Segundo ela, há vinte anos o produtor a convidou para um hotel em Beverly Hills, onde o encontrou apenas de roupão e pedindo que ela fizesse uma massagem ou assistisse a ele tomando banho. Ela diz se lembrar de ter pensado: “Como eu saio daqui o mais rápido possível sem me indispor com Harvey Weinstein?”
“Eu disse ‘não’ de muitas maneiras e várias vezes, e ele sempre voltava com uma nova pergunta. Havia sempre essa negociação coercitiva.”
O The New York Times entrevistou antigos e atuais funcionários de Weinstein, além de membros da indústria hollywodiana e várias outras mulheres. O jornal também obteve memorandos internos da Miramax e Weinstein Company. “Há um ambiente tóxico para mulheres nesta empresa“, diz um documento escrito por Lauren O’Connon, colega de uma mulher assediada em 2014.
As acusações contra o empresário existem há cerca de três décadas, afirma o jornal. Ao longo dos anos, Weinstein fez pelo menos oito acordos com mulheres: por exemplo, com uma jovem assistente de Nova York em 1990, uma atriz em 1997, outra assistente de Londres em 1998, uma modelo italiana em 2015 e também com Lauren O’Connor.
Mark Gill, antigo presidente da Miramax, falou ao NYT:
“De fora, tudo parecia de ouro – os Oscars, o sucesso, o impacto cultural marcante. Mas por trás de tudo, era uma bagunça, e [o tratamento de Weinstein para com mulheres] era a maior bagunça de todas.”
Sobre o comportamento de Harvey, Kathy DeClesis, assistente do irmão dele, Bob, no início dos anos 90, afirmou: “Isso não era nenhum secredo para o círculo mais íntimo“.
Emily Nestor, estudante de direito e economia, é outra mulher que revelou ter sido assediada por Harvey Weinstein quando ele o convidou para o mesmo hotel citado por Ashley Judd, o Peninsula.
“Depois que ela chegou, ele se ofereceu para ajudar sua carreira enquanto se vangloriava de várias atrizes famosas com as quais ele afirmou ter transado. (…) ‘Ela disse que ele era muito persistente e focado, embora ela continuasse dizendo não por mais de uma hora’, apontaou um documento interno. A Srta. Nestor, que se recusou a falar com a reportagem, recusou sua proposta. ‘Ela ficou desapontada por ele ter se encontrado com ela e não estar interessado em seu currículo ou suas habilidades’. A jovem optou por não denunciar o ocorrido ao RH [da Weinstein Company], mas as alegações chegaram à chefia através de outros funcionários.”
As mulheres entrevistadas pelo The New York Times, entre 20 e 40 anos e de cidades diferentes, falaram sobre os comportamentos de Weinstein: ele aparecia na frente delas quase ou completamente nu, queria que elas o vissem tomar banho ou pedia por uma massagem. Algumas disseram que não denunciaram o empresário porque não haviam testemunhas e tinham medo dele revidar.
Weinstein enviou um comunicado ao jornal sobre as acusações, que pode ser lido na íntegra neste link. Algumas partes estão traduzidas abaixo:
“Eu atingi a maioridade nos anos 60 e 70, quando todas as regras sobre comportamento e locais de trabalho eram diferentes. Essa era a cultura naquela época. Desde então, aprendi que isso não é uma desculpa, nem no ambiente de trabalho ou fora dele. Para ninguém. Percebi há algum tempo que precisava ser uma pessoa melhor, e as interações com as pessoas com as quais trabalho mudaram. Entendo que a maneira que me comportei com colegas no passado causou muita dor, e peço sinceras desculpas por isso. (…) Eu contratei terapistas e planejo tirar uma licença do trabalho e lidar com este problema diretamente. Eu respeito muito todas as mulheres e me arrependo do que aconteceu. JAY-Z escreveu em ‘4:44’: ‘Eu não sou o homem que eu pensei que era e é bom que eu seja este homem para os meus filhos’. O mesmo é verdade para mim. Quero uma segunda chance na comunidade, mas sei que tenho trabalho a fazer para ganhá-la. Eu tenho metas que agora são prioridades. Confiem em mim, este não é um processo rápido.”
Mesmo com essa declaração, ao The Hollywood Reporter, um dos advogados de Weinstein revelou que ele vai processar o The New York Times pela matéria, alegando que as acusações são falsas e baseadas em boatos. “Todo o dinheiro será doado para organizações de mulheres“.
Segundo outros veículos, a New Yorker também está preparando uma reportagem sobre as acusações contra o produtor.