Por que decidi fazer com esse enfoque, só com cantoras? Dois motivos. 1) não aguento mais o povo chamando de “hinário” qualquer disco de cantora pop atual (hinário é algo cheio de hinos, segundo a internet). Alguns desses discos mal possuem três músicas boas.
Número 2) sempre que você vai ver listas de melhores discos dos anos 60 e 70, chovem bandas de rock, chovem cantores homens, Led Zeppelin, Brian Eno, Iggy Pop, David Bowie, Neil Young, Beatles, Joy Division… E muuuuitas mulheres são esquecidas. Tem lista, por exemplo, que chega ao absurdo de não trazer nem o “Blue” da Joni Mitchel ou nem um “I Never Loved a Man” da Aretha Franklin.
Tá errado. Vamos ver essas mulheres que arrasam, que fizeram álbuns cheios de hinos, poder e música boa!
“Etta James, At Last!” (1961)
Etta James
Mas, se for encarar, dá uma ouvida no que Etta James faz na faixa “A Sunday Kind of Love”! Tão suave, tão romântico… Todo mundo quer um amor de domingo pra curtir. Essa música é justamente sobre isso.
Não preciso falar das faixas “Stormy Weather” e “At Last”, né? Aqueles violinos junto com aquela voz ABSURDA!
“Judy at Carnegie Hall” (1961)
Judy Garland
Judy se apresentou no Carnegie Hall de forma impecável. Estava com uma energia contagiante em todas as faixas e vivia a melhor fase vocal de sua carreira.
É nesse disco que ela canta clássicos da época e imortaliza algumas músicas como “Come Rain or Come Shine” e “Puttin’ On the Ritz”. Essa última, por exemplo, tente cantar com essa respiração dificílima e ainda alcançando as notas de Judy. Tente lá.
E a versão dela de “You Go to My Head”? Já a mais famosa do disco é, obviamente, “Over the Rainbow”, música que somente Judy deveria cantar. Ninguém deveria se atrever a cantar. :P
“Presenting… Dionne Warwick” (1963)
Dionne Warwick
É o primeiro disco dela e o trabalho que a marcou como a melhor cantora para interpretar os sucessos de Burt Bacharach. O hino é “Don’t Make Me Over”, uma das músicas mais marcantes e de maior sucesso dos anos 60. É uma das minhas favoritas do disco.
Outra que amo: “Make it Easy On Yourself”, uma letra sobre um término de namoro, alguém tomando coragem para terminar um relacionamento. Quando canta, Dionne parece que não faz esforço nenhum. A voz sai fácil, mas com um alcance gigante.
“I Never Loved A Man The Way I Love You” (1967)
Aretha Franklin
Não é um disco, é um marco. É obra-prima da música. Não só por ter “Respect”, uma das músicas mais importantes e marcantes do século, mas também por trazer versões de clássicos como o de Sam Cooke, “A Change is Gonna Come”. É soul, mas também é blues.
Escuta o que Aretha Franklin faz com a voz em “Dr Feelgood”. Ouça “Drown in My Own Tears” e “Baby, Baby, Baby” e entenda o que é soul com precisão. É uma aula sobre o gênero musical. Vá também ouvir a porrada que é “Do Righ Woman – Do Right Man”… Isso sim é álbum “hinário”, gente.
Esse disco é a chegada definitiva de Aretha Franklin na música, ganhando o respeito de todo mundo. É um álbum que é referência e que influenciou praticamente todas as grandes cantoras e compositoras do rock e do pop que a gente respeita atualmente. É um dos meus álbuns favoritos de todos os tempos.
“Dusty in Memphis” (1969)
Dusty Springfield
É a chegada dos britânicos na soul music. Ouve “I Don’t Want to Hear it Anymore” e “Don’t Forget About Me”. É chique pra caralho. É lindo pra caralho.
Quer hino maior que “Son of a Preacher Man”? Daria pra ter só essa faixa que o disco já estava épico. Repetia “Son of a Preacher Man” uma atrás da outra e, pronto, já tinha um disco.
Não é só um dos melhores álbuns dos anos 60, é também um dos melhores álbuns já lançados por uma cantora, assim como o de Aretha Franklin que falei acima.
“Tapestry” (1971)
Carole King
Músicas para curar o coração, músicas para fortalecer a amizade, músicas para enaltecer a própria beleza, sair feliz de casa, amando o mundo.
Carole King é uma das melhores compositores femininas que a gente já teve conhecimento na música e esse disco dela, de 71, tem todos os hits que você precisa conhecer. Eu amo a capa, ela na janela com um gatinho.
“You’ve Got a Friend” é hino dos 70, é música para mandar para o amigo e dizer que o ama. Tem também a tristíssima “Will you Love Me Tomorrow”… E a solitária “So Far Away”?
É sobre término de namoro, sobre lidar com as dores da vida. Lindo disco! (ps. oi, fãs de Gilmore Girls! Vamos ouvir juntos “Where You Lead”?)
“Fa-Tal – Gal A Todo Vapor” (1971)
Gal Costa
Não é um disco perfeito tecnicamente. Você vai perceber que a voz da Gal, um absurdo de tão grande, estoura em vários momentos, naqueles que ela atinge as maiores notas. É cru, é poderoso, é aquele disco que dá orgulho ao perceber que no Brasil temos alguém com um talento desse tamanho.
Eu amo “Sua Estupidez”, que ela gravou do Roberto e Erasmo Carlos. Linda. Amo também “Pérola Negra”, “Como Dois e Dois” e por aí vai. Mas o grande clássico, o grande hino do disco é “Vapor Barato”. Um marco da Gal, uma gravação histórica. Frank Ocean também ama. Todos amam.
“Blue” (1971)
Joni Mitchell
Eu não consigo escolher uma favorita. Não sei se é “Carey”, se é “River”, se é “All I Want”… Mas se eu tivesse que escolher uma música para salvar nesse disco, se todas estivessem sumindo da humanidade e eu só pudesse só salvar uma, eu resgataria “A Case of You”.
É uma história linda de amor, de entrega… “Oh you’re in my blood like holy wine, you taste so bitter and so sweet/ Oh I could drink a case of you, darling. And I would still be on my feet”.
Que hinário da porra! Discão da porra! É um dos meus álbuns favoritos de todos os tempos. Guardo no coração.
“The Divine Miss M” (1972)
Bette Midler
Esse é o melhor disco de Bette Midler, que canta de um jeito incrível e ao mesmo tempo tão bonito e tão delicado. Principalmente na faixa que abre o disco, “Do You Want to Dance?”.
É o disco que fez a Bette Midler ficar famosa nos EUA definitivamente. Dá uma ouvida em “Hello in There”, uma das minhas favoritas. “Friends” é cheia de alegria e totalmente otimista. Dá um pouco de dó porque Bette Midler não canta mais como cantava nessa época. Mas ficou o registro.
É drama e fechação gay. É um disco tão adorado pelos gays quanto o de Judy Garland, que abriu essa lista.
“Fruto Proibido” (1975)
Rita Lee & Tutti Frutti
O disco termina com a clássica “Ovelha Negra”, uma das músicas mais conhecidas da cantora, só para sair de forma triunfante e marcante porque antes…
Vem um desfile absurdo de música boa, começando pela primeira, “Dançar Para Não Dançar”. Eu adoro “Esse Tal de Roque Enrow”, “Agora Só Falta Você”, “Luz Del Fuego”… É rock com guitarras incríveis, altas demais pra um disco de rock da época e junto com uma das letras mais legais e inventivas da MPB. É bom demais.
“Horses” (1975)
Patti Smith
Esse disco revolucionou o rock, deixou gente apavorada por seu conteúdo repleto de temas como sexo, cavalos e… Jesus… “Jesus died for somebody’s sins, but not mine”, canta Patti na faixa épica que abre o disco, “Gloria”.
É uma gravação crua, com um vocal extremamente marcante, um álbum sofisticado sobre juventude, mas com uma maturidade gigante. É coisa de rainha do punk.
“Bad Girls” (1979)
Donna Summer
O “Bad Girls” é um desfile de vocais poderosos. Dificilmente encontramos uma cantora que consegue cantar como Donna Summer.
Esse é o disco que, como já diz o nome, tem “Bad Girls”, uma faixa produzida pelo gênio da disco, Giorgio Moroder. Pronto. Precisa dizer mais alguma coisa? “Tchu, tchu, aaaahhh, beep beep”!
Gostaram?
Me diz nos comentários se esqueci de alguém porque eu sei que tem várias! Se vocês curtiram, posso fazer outra lista na próxima semana trazendo os discos “hinários” das cantoras dos anos 80. Depois faço uma dos anos 90 e por aí vai… Que tal?