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Por que o Chainsmokers não ganhou como revelação no Grammy?

O Grammy aconteceu no último domingo e ainda reverbera por tudo quanto é canto. Muito por conta dos shows emocionantes que marcaram à noite (Bruno Mars, Lady Gaga, A Tribe Called Quest), da postura incrível de Adele em ‘dar’ o álbum do ano para Beyoncé ou na celebração para Prince, George Michael e David Bowie. O Papel Pop contou tudo o que aconteceu na festa, mas eu queria falar um pouco sobre uma categoria da premiação que, para pessoas sedentas por música, pode ter sido uma das mais importantes da noite: Revelação.

Para ostentar o gramofone dourado em sua estante tem que cumprir alguns requisitos do júri. Ter o mínimo de cinco singles/faixas ou um álbum, mas não mais de 30 singles/faixas ou três álbuns. Não pode ter entrado nesta categoria mais de três vezes, incluindo como um integrante de algum grupo conhecido. Ser reconhecido publicamente pela sua obra musical durante o período de votação da academia. Sendo assim, o Grammy abre uma grande frente para nominações. O grupo ou pessoa pode estar em seu terceiro disco e ter alguma chance.

Chance the Rapper foi a revelação da noite e passou raspando dentre as regras que o Grammy impõe para concorrer. Com ‘Coloring Book’, o cantor de Chicago estava em sua terceira e última tentativa de ser tido como uma revelação perante a Academia. É um trabalho de rap bem pop, com participações de Justin Bieber, Kanye West, Lil Wayne. Eu fiquei surpreso dele levar o prêmio para casa e vou explicar o porquê. O Grammy é o prêmio mais importante da indústria fonográfica mundial e quem põe as cartas são os membros da Recording Academy. A associação é composta por produtores gabaritados, engenheiros de som, técnicos, músicos e, além, é claro, de gravadoras.

Com isso, existe uma métrica para escolher o vencedor: política interna, relevância perante ao mercado e vendas. Nunca tinha acontecido na premiação um álbum lançado apenas no digital aparecer na cerimônia. Pra quem conhece um pouquinho do pupilo de Kanye West e Beyoncé, sabe o quanto ela prega a importância de sua independência. A música carro-chefe do disco, ‘No Problem’, tem um refrão um pouco diferente do que o Grammy acredita:

Se mais uma gravadora tentar me parar
Vão ter alguns criolos de dread no seu lobby
Você não quer problemas, não quer problemas comigo

Apesar de ter levado a estatueta na categoria ‘Melhor Gravação Dance’ com a música ‘Don’t Let Me Down’, o Chainsmokers era o grande favorito para levar o gramofone dourado para casa. Eles têm diversos clipes que mostram como a vida por ser boa e bonita, são um dos grandes nomes do EDM da atualidade, fazem grandes turnês pelo mundo afora e tem papel assinado bonitinho com uma gravadora como pede o script do Grammy. Este sim era o nome da academia e eu acho difícil os jurados terem ouvido o disco do Chance the Rapper e terem pensado: ‘O minino é bão, vamos dar este prêmio para ele’. Se fosse assim, em colocar na balança o que é justo, teríamos um panorama diferente do que acontece na categoria disco do ano:

2013 – Mumford > Frank Ocean
2014 – Daft punk > Kendrick Lamar
2015 – Beck > Beyoncé
2016 – Taylor Swift > Kendrick Lamar
2017 – Adele > Beyoncé

Nenhuma premiação agrada a todos, mas pelo Grammy ser uma festa da indústria da música e contar com um lobby violento nos bastidores, algumas peças podem ser mudadas e o jogo ficar com um resultado, digamos, estranho. Não é de agora que os vencedores em algumas categorias deixam uma pulga na orelha de quem está assistindo. Se formos pegar quem deixou de ganhar o prêmio de revelação por politicagem é assustador.

Alanis Morissette perdeu a estatueta para Hootie e the Blowfish (?) em 1996. No Doubt e Garbage foram superados por Lean Rimes (??) no ano seguinte. E no ano que o Brasil perdeu a Copa do Mundo para a França, Paula Cole (???) desbancou Erykah Badu, Fiona Apple e Puffy Daddy.

Deve ser por conta de algumas escorregadas como esta e um processo nebuloso para a escolha dos indicados e vencedores, alguns nomes conhecidos da indústria estão se voltando contra ela. Será que por conta disso, o Grammy resolveu mudar um pouco o seu discurso, tirar o prêmio do Chainsmokers e dar para o Chance the Rapper?

O jornalista paulistano, produtor musical e marketeiro Brunno Constante analisa, pondera, escreve e traz novidades sobre música no Papelpop todas as terças-feiras.

Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.

Quer falar com ele? Twitter: @brunno.


* A opinião do colunista Brunno Constante não necessariamente representa a opinião do Papelpop. No entanto, por aqui, todas as opiniões são bem-vindas. :)

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