Na terça-feira (14) bombou na internet uma notícia sobre o maior youtuber do mundo, PewDiePie (apelido de Felix Kjellberg), ter perdido grandes contratos por conta de elementos nazistas e antissemitas em alguns de seus vídeos evidenciados pelo Wall Street Journal.
Um ~dossiê~ sobre PewDiePie postado pelo jornal mostra que nove vídeos publicados por ele em seu canal desde agosto de 2016 tinham referências nazistas ou antissemitas – alguns deles já foram deletados pelo próprio youtuber – como imagens de suásticas e discursos de Hitler. Tudo piada usada como forma de entretenimento, de acordo com o youtuber.
O vídeo mais comentado datava do dia 11 de janeiro deste ano e mostrava dois indianos contratados pelo youtuber segurando um cartaz com os dizeres “Morte a todos os judeus”. Segundo PewDiePie, esse conteúdo em questão se tratava de uma espécie de desafio usando o site de trabalhos freelancer Fiverr, no qual os clientes pagam para as pessoas cadastradas fazerem o que escolherem. Nesse caso, os indianos cobravam para dançarem mostrando uma mensagem escolhida por quem pagava.
Hoje, quinta-feira (16) o youtuber publicou um vídeo em seu canal comentando a polêmica. Tem 11 minutos e é todo em inglês, mas a gente traduziu para vocês.
“Haverá muita gente de olho em mim nesse vídeo, então vou falar como se estivesse me pronunciando publicamente e não só diretamente com o meu público, como faço normalmente. Venho fazendo vídeos no YouTube pelos últimos seis anos e é um hobby que tive sorte de ter também como trabalho pela maior parte desse tempo. Sou muito sortudo e mais bem-sucedido do que eu poderia ter sonhado. E como muitos de vocês sabem, eu consigo me sustentar muito bem por causa dos vídeos. E vocês sabem disso porque é só o que a mídia fala de mim. Além do que houve agora. Acho que a maioria das personalidades da internet concordam comigo quando digo que a mídia geralmente não gosta muito de nós. A Variety, por exemplo, postou em 2013: ‘Se PewDiePie é o maior talento do YouTube, estamos todos perdidos’. E embora eu não tenha entendido isso na época, essa matéria mostra mais do que tudo que a mídia tradicional não gosta das personalidades da internet porque ela tem medo de nós. Temos muita influência, e não acho que eles entendam isso. (…) Se há algo que eu aprendi sobre a mídia sendo uma figura pública é como ela descaradamente representa as pessoas de forma errada. (…) Basicamente o Wall Street Journal me acusou de ser antissemita. Quero falar sobre o grande problema primeiro, que é o vídeo dos caras segurando o cartaz [com os dizeres ‘morte a todos os judeus’]. Muita gente amou, muita gente odiou. E é como duas gerações de pessoas discutindo sobre se isso é OK ou não. Apesar disso, só quero reforçar que minha intenção foi só mostrar como o site é idiota e como você pode explorar isso pagando cinco dólares. Sinto muito pelas palavras que usei, pois sei que elas ofenderam as pessoas. Admito que a piada passou dos limites. Acredito muito que você pode brincar com tudo, mas também que há uma maneira certa e uma maneira não tão legal de fazer piada. Acho que aprendi muito com essa situação, e é algo que eu vou prestar atenção no futuro.”
Kjellberg continua, dizendo que é “um absurdo” que o Wall Street Journal tenha feito uma matéria sobre isso, e que o veículo, compilando vídeos dele com referências nazistas e antissemitas, pressionou a Disney e o YouTube a terminarem o contrato. “Não quero que as pessoas achem que eu penso que posso fazer piada de qualquer coisa e isso não vai me afetar; eu entendo que atos têm consequências. Não estou tentando justificar isso nesse vídeo, mas eles não chamaram os vídeos de piadas, chamaram de posts“.
“Foi um ataque da midia para me descreditar, para tentar diminuir minha influência e meu valor financeiro. Os repórteres do jornal assistiram centenas de vídeos meus para tentar achar o máximo de provas e me pintar como antissemita. Não era uma matéria, era um ataque pessoal contra mim e isso está claro. Então o que eu fiz para merecer isso? Fiz algumas piadas que as pessoas não gostam, e se elas não gostam, respeito e entendo isso completamente. Reconheço totalmente que passei dos limites, mas as reações e os escândalos são insanos. Há pessoas comemorando o fato de que minha série foi cancelada, algo no qual várias pessoas trabalharam! Isso é justo? Tudo bem não concordar com o senso de humor de alguém, mas me chamar de fascista… Dizem que essas piadas estão normalizando o ódio. Sendo isso verdadeiro ou não (spoiler: não é), a menos que 53 milhões de nazistas estejam me assistindo), um ataque pessoal a mim para me pintar como antissemita não está fazendo favor a ninguém. Você tem como alvo um cara da Suécia que tenta ser engraçado, mas na maioria das vezes não dá muito certo – muito ofensivo. Mas ele tem boas intenções. Há ódio no que eu faço? Não. Pessoalmente, acho que eles são os que estão normalizando o ódio, porque há ódio de verdade na vida real, há problemas de verdade. Em vez de comemorar o cancelamento da minha série, por que não focam nisso? Ainda estou aqui fazendo vídeos. Boa tentativa, Wall Street Journal, tentem de novo, filhos da puta.”
No fim, com os olhos marejados, ele agradece aos fãs que estão o apoiando, e ainda brinca com uma “saudação secreta nazista”.
Aqui no Brasil dois youtubers saíram em defesa dele antes desse vídeo ser postado: Cellbit e Felipe Neto. Cellbit começou ironizando a situação:
Trocando mensagens com um usuário do Twitter, ele disse que a mídia tradicional quer sabotar o sueco:
Já o Felipe Neto, em uma série de tuítes, explicou em suas palavras o que houve.
Teve até post em inglês:
“É assim que funciona, YouTube? Quando você precisa dos milhões dele, o bajulam. Quando ele é atacado, vocês caem fora?”
Na gringa, o youtuber americano Casey Neistat comentou o ocorrido em um vídeo intitulado “PewDiePie vs. Liberdade de expressão” – e os comentários lá estão pegando fogo.
No minuto 2:03 Neistat fala:
“PewDiePie é de longe o maior criador de conteúdo do YouTube, com 53 milhões de inscritos em seu canal e quase 15 bilhões de visualizações, então essa notícia chama a atenção para a plataforma inteira. Ele e o YouTube querendo ou não, PewDiePie representa sim essa plataforma. Qual é minha opinião quanto a isso? Eu conheci PewDiePie, passei um tempo com ele, e na minha opinião eu acho que o cara não tem nem um pingo de ódio dentro dele, não acho que ele está querendo propagar ódio, não acho que ele seja antissemita. Em ‘Homem-Aranha’ tem aquela frase: ‘Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades’. Ter 53 milhões de inscritos vem com certa responsabilidade, e ela significa que é preciso entender seu público e como suas palavras serão interpretadas. Então ainda que você fale algo com a intenção de ser uma piada, seu público nem sempre vai interpretar desse jeito. (…) PewDiePie, acho que você vai ficar bem, as pessoas costumam perdoar e esquecer, e mesmo que eu não seja fã desse tipo de humor, não há nada que eu goste mais do que liberdade de expressão em qualquer condição. Mas acho que toda essa situação ressalta que youtubers em todo o mundo podem dizer o que quiserem, mas às vezes haverá consequências.”
Ethan Klein, do canal H3H3, também falou sobre o caso, defendendo PewDiePie e falando sobre os contextos dos vídeos.
Aos 2 minutos e 23 segundos, Klein diz:
“É uma piada! Ele não está falando sério, tem uma grande diferença, o contexto é importante. Como judeu, não estou ofendido. E é esse o problema com esse escândalo fabricado: pessoas se ofendendo por pessoas que não se sentiram ofendidas! Vocês não precisam sentir raiva em meu nome. Hitler num palanque gritando ‘vamos matar os judeus’ não é o mesmo do que PewDiePie fazendo uma zoeirinha em um site de trabalhos freelancer. Contexto importa, usem a porra do cérebro de vocês. (…) É um caso global de difamação. (…) Felix não é um racista de verdade, ele é um comediante. Talvez ele tenha passado um pouco dos limites, mas é só isso, não vamos chamá-lo de antissemita porque ele não é. Guardem o ultraje de vocês para verdadeiros racistas.”