Mais do que ter uma mesa repleta de comidas que você não conseguir comer durante à noite, colocar uma roupa bonitinha para ficar na sala de estar com a sua família ou esperar a hora certa para desembrulhar os presentes, o natal é uma época onde a tradição de velhos hábitos prosseguem de geração para geração, mesmo sem fazer muito sentido. Um deles está presente há mais de quatro décadas na casa dos brasileiros firme e forte: Especial do Roberto Carlos, na Globo.
Em 1974, o Rei assinou um contrato de exclusividade com a TV Globo para um programa anual para servir de trilha sonora na noite de natal do brasileiro. Ninguém sabe ao certo o que tem nesta papelada, mas o Roberto Carlos tem super poderes dentro da emissora e recebe valores na casa de milhões por temporadas. Não ter a obrigação de participar de programas da grade, ter o poder de escolha das participações especiais e trabalhar por apenas um período durante um ano parece ser um bom acordo.
Ser um dos maiores nomes da música brasileira faz com que o convite para participar de um especial soe como uma convocação. O Rei chamou, o artista tem que comparecer. Durante estas décadas, o especial teve nomes gigantes como Tom Jobim, Mané Garrincha, Mussum, Maria Bethânia, Djavan, Tim Maia, Xuxa, Chico Buarque, Cássia Eller. Acho que um dos momentos mais bizarros foi quando o Roberto Carlos dividiu o palco com o MC Leozinho, onde cantaram ‘Se Ela Dança, Eu Danço’. A premissa de atualizar a imagem do Rei com hits estavam nas paradas sempre foi uma preocupação da curadoria musical do canal. Foi assim com Daniela Mercury (nos anos 90) e Paula Fernandes ou Ludmila em especiais recentes.
Hoje, o especial do Roberto Carlos é gravado no Projac num estúdio com o ar condicionado no talo sob os olhos de uma plateia super vip. Publicitários, atores que se comportaram bem durante o ano, fã-clube do rei. Nos anos 70/80, o especial era temático e os roteiristas e a diretoria rebolavam para achar um tema que agradasse o Rei e fosse bem de audiência. Ele já falou sobre o meio ambiente, visitou personalidades políticas para um papo, lembrou da arte circense, emprestou a sua imagem para divulgar campanhas da UNICEF, homenageou Charles Chaplin e dirigiu com o Ayrton Senna pelas estradas de Santos.
O lance de ter uma exclusividade tão ferrenha é ruim, pois não teremos a oportunidade de ver o Rei interagindo com o Silvio Santos em algum programa de auditório, responder a perguntas da Xuxa em seu talk-show na Record ou invadir a programação da nova MTV. Roberto Carlos tem peso e uma discografia rica para bancar um programa anual em qualquer emissora, mas uma hora cansa. Como um bom jogador, o Rei tem que saber a hora certa de tirar o seu time de campo. O meu palpite é em 2026, quando ele completar 50 anos de seu especial nas telas. Qual é o seu?
Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.
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* A opinião do colunista Brunno Constante não necessariamente representa a opinião do Papelpop. No entanto, por aqui, todas as opiniões são bem-vindas. :)