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Ouvi “Perfect Illusion” dez vezes desde ontem e anotei minhas impressões em cada momento

Pronto. Já ouvi umas dez vezes. Sei que tem fã que já deve ter ouvido umas 30 vezes, mas eu fiz de um jeito religioso. A cada ouvida, eu anotei o que eu senti e notei e se estava gostando ou odiando.

Gaga está de volta para o pop (ou rock!) numa faixa produzida por Tame Impala, Mark Ronson e o Bloodpop, que faz música com a Grimes. Parece promissor, né?

É a primeira faixa solo dela em três anos. Ficamos TRÊS FUCKING ANOS vendo a Gaga se esconder na TV, no Cole Porter, grudar no Tony Bennett e nas Julie Andrews no Oscar. Arrasando, claro. Fazendo o que ela faz melhor que muita gente no pop não faz: arrebentando nos vocais e mostrando um talento de performer absurdo.

Mas a gente queria material autoral, a gente ouviu “Artpop”, gostou de algumas músicas ali dentro, não entendemos o vestido que voava, vimos o clipe de “Do What U Want” ir embora, não entendemos os apps pra brincar com o disco… MAS ENFIM! AGORA ELA VOLTOU!

“Perfect Illusion” saiu na quinta-feira à noite…

Eu dei play na quinta-feira à noite mesmo, saindo do teatro (fui ver “Wicked”) e voltando pra casa de Uber, pus os fones e ouvi pela primeira vez:

1ª ouvida: Meu Deus, Gaga, eu vou tacar um chinelo em você! Para com esse desespero. Que gritaria desenfreada é essa?

2ª ouvida: Olha, Gaga, tem uma pegada meio disco no refrão dessa música, né? Eu cheguei a brincar no podcast dessa semana que ela ia fazer uma coisa meio disco, meio Donna Summer e quase acertei. Quase acertei porque as letras da era disco eram mais inspiradoras e esperançosas que essa. E os vocais mais suaves e gostosos.

3ª ouvida: Gaga, amiga, eu curti essa ideia de ter o vocal poderoso bem cru. Mal tem mixagem tradicional do pop da rádio. Isso é bem gravação antiga de rock mesmo. Tá sem efeito algum no vocal. E você pode porque sabe cantar pra caralho! Uma da poucas do pop atual que consegue.

4ª ouvida: Gaga, é um pouco difícil gostar dessa música. Estou ouvindo pela quarta vez, mas é um pouco irritante sim. Eu amo a batida no final da música, perto do minuto 2:20, mas a repetição do refrão é quase uma tortura.

5ª ouvida: Olha, eu amo o começo da música. É promissora demais. Parece vir algo muuuuito groovy e bom. O verso inicial também é bom. É tudo promissor. A batida da bateria, o groove… O refrão repetitivo começa a ficar um pouco mais familiar. Eu paro para almoçar e deixo a música de lado. O que acontece? Fico com “it wasn’t love” na cabeça o almoço inteiro. É grude certo do pop!

6ª ouvida: Volto a ouvir lá pelas 14h. Os vocais no minuto 1:50 mostram o que eu já tinha notado lá na terceira ouvida. Tá bem cru mesmo, sem tratamento algum. Bem legal, ok, mas a música podia ser uma música boa de rock. Deu saudade de “You And I” e “Speechless”. Podia ter a melodia poderosa e a pegada rock dessas duas faixas, mas essa gritaria nessa nova é mesmo irritante. Olha o chinelo, Gaga!

7ª ouvida: Eu comecei a ouvir “You and I” agora no Spotify. Voltei para o passado da Gaga. A faixa é maravilhosa. Quando você volta a ouvir a Lady Gaga do pop, você nota que essa “Perfect Illusion” tá muito aquém do que ela pode fazer.

8ª ouvida: Eu não consigo ver o dedo do Mark Ronson nessa música. Muito menos o de Kevin Parker do Tame Impala. O deste último, talvez, no vocal. Mas aí é um chute meu. Como o Parker grava sempre tudo em casa quando faz uma música, talvez isso explique o fato dos vocais estarem tão crus. Mas cadê o dedo dele na musicalidade? Pra que ele serviu? Eu pensei que Gaga ia aproveitar como fez a Rihanna ao regravar “Same Ol’ Mistakes” do Tame Impala. Ela pegou a base e gravou. Mudou quase nada e usou muito dele e ficou lindo.

9ª ouvida: A música tem a pretensão de ser inovadora e não consegue muito disso. O que a gente precisa é de uma música boa. O que PI música é: bem produzida, tem refrão que gruda e é totalmente não-comercial. E isso dá a entender que a Gaga pode estar mesmo cagando pra atenção do rádio nesse disco novo. Isso é uma coisa boa e deixa a gente esperançoso que venha coisa autoral e legal pro disco.

10ª ouvida: Eu queria ter gostado mais. Estávamos todos empolgados em ter a Gaga de volta pra música de agora. Isso já é motivo de comemoração e acredito que este seja o motivo pelo qual muitos estão aplaudindo a música nova. Mais pela iniciativa. Depois do não muito inspirado “Artpop”, Gaga meio que “fugiu” pro hotel do terror do Ryan Murphy e namorou com a música das antigas. Ficou na zona de conforto. Ali, no jazz e nas apresentações maravilhosas do Oscar, não tinha como errar. Porque cantar ela sabe muito bem e melhor que muita gente. Então a expectativa desse retorno para a música era muito grande. Eu queria ter gostado mais. Mas a música não é amor, não é amor. É uma perfei… Não, eu me recuso a terminar o texto com esse trocadilho.

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