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música

Timing certo, close certo

Não basta gravar um belo disco, chamar convidados super especiais, ter uma capa maravilhosa, planejar uma agenda parruda de apresentações e perder o timing do lançamento do álbum. Tudo é uma questão de timing, turma. Tudo mesmo. Não só na música, mas em um passe numa partida de rugby, de esperar o momento certo num approach amoroso ou de lançar um novo produto no mercado publicitário. Timing.

Eu vou contar uma breve e recente história de um cantor sueco chamado Ledinsky. O rapaz é um grande entusiasta do folk e compositor de mão cheia. Ao fazer alguma música, ele costuma mandar para alguns amigos e apresenta suas cantigas em lugares intimistas com as suas composições. Ledinsky tinha preparado o lançamento do seu EP, “High Society”, para o dia 15 de julho deste ano, mas faltava uma música como single. Um mês antes da chegada do seu trabalho nas lojas, ele gravou uma faixa chamada “DonaldTrumpMakesMeSmokeCrack” e fez o mesmo ritual de mandar os seus amigos. A canção chiclete, atual e com o título polêmico era o single que procurava. Ele conseguiu encaixar a faixa no EP e esperou para ver se ia dar algum resultado.

A faixa foi adotada por alguns grupos de jovens democratas nos Estados Unidos, viralizou no Spotify e o músico ganhou um contrato com a Atlantic Records, um dos maiores selos do mundo. A zoeira com Donald Trump deu MUITO certo. A média das faixas dele no Spotify era de 15 a 20 mil plays. Com a entrada do hit em diversas playlists, Ledinsky conseguiu bater quase três milhões de execuções e mudou sua vida. A correria que Ledinsky fez para incluir a faixa no disco foi algo que fez a diferença. O timing que ele teve não poderia ser mais preciso, pois, no dia 20 de julho, Donald Trump foi confirmado como o candidato do partido republicano à presidência dos Estados Unidos.

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Para quem curte R&B e afins, deve acompanhar a novela do novo disco do Frank Ocean há pelo menos três anos. O cantor despontou no coletivo de hip-hop Odd Future, mas ganhou destaque com o seu trabalho “Channel Orange”, lançado em 2012. O disco foi considerado um dos melhores do ano ao lado de “good kid, m.A.A.d city”, de Kendrick Lamar. A história que envolve o novo “Boys Don’t Cry” (será que vai ser este nome mesmo?) é longa e causa angústia.

Em uma época que os cantores são inquietos a respeito de produção e lançam singles a cada dois meses (e olhe lá), o cantor nada contra a maré e desenvolve suas músicas de forma pacata e num ritmo alheio o que acontece no mundo exterior. Para você ter uma ideia, este álbum era para bater de frente com o “Beauty Behind the Madness”, do The Weeknd.

Falar de falta de timing na música e não citar o “Chinese Democracy”, do Guns N’ Roses, seria um crime. Eles demoraram 17 FUCKING anos para a realização do trabalho! Quando muitos já não acreditavam mais em um novo disco de Axl Rose e sua trupe, o álbum finalmente foi lançado em novembro de 2008.

O grupo conseguiu uma honrada terceira posição da Billboard, vendendo 261 mil cópias na semana do lançamento, o número foi bem desanimador para as expectativas do Guns e de sua gravadora, que ainda culpou Axl por ter feito publicidade de uma forma exacerbada em cima do “Chinese Democracy“. Com tanta demora para seu lançamento e o grande número de músicos envolvidos, o álbum acabou ganhando o status de disco confuso e de pouca personalidade.

Além de Frank Ocean, esta temporada ainda reserva discos de Killers, The XX, MGMT, The Haim, Kings of Leon, Run the Jewels e mais um um monte de banda. Vamos ver se eles vão ter o timing certo para lançar as boas novas e acalmar os fãs.


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O jornalista paulistano, produtor musical e marketeiro Brunno Constante analisa, pondera, escreve e traz novidades sobre música no Papelpop todas as terças-feiras.

Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.

Quer falar com ele? Twitter: @brunno.


* A opinião do colunista Brunno Constante não necessariamente representa a opinião do Papelpop. No entanto, por aqui, todas as opiniões são bem-vindas. :)

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