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Músicos devem tomar partido na política?

Em entrevista cedida ao Washington Post, Taylor Swift demonstrou apoio ao impeachment de Dilma e disse ver o Brasil em melhores mãos com Aécio Neves. A cantora ainda prometeu fazer um pocket-show no próximo domingo, na Avenida Paulista, convocando fãs brasileiros para “enfrentar a ditadura do PT”.

De surpresa, sem avisar a imprensa, Rihanna participou do ato contra o golpe ao governo atual em carro da CUT ao lado de Lula e Dilma. No evento, realizado no Largo da Batata, em São Paulo, Riri mostrou a coreografia de “Work” para a presidenta Dilma Rousseff e não entendeu o porquê das panelas sendo batidas por onde ela passava.

Imaginar que loucura seria se você lesse isso em algum site em tempos de ódio político que vivemos hoje…

Até o momento, estamos numa democracia, onde o artista ou pessoa civil tem o direito de escolher o lado que quer apoiar ou simplesmente ficar, de boas, em cima do muro.

Hoje o artista brasileiro pode se posicionar

Se num passado não distante, quem fazia resistência ao governo aqui no Brasil sofria duras penas, hoje a sua banda favorita pode rasgar o verbo no Facebook, fazer um show ou convocar os seus fãs para um franco debate sem problema algum.

Ah, mas o artista tem que se preocupar em fazer música, apenas. Se fossemos levar a risca esse pensamento, a música popular brasileira não iria cumprir um papel tão importante ao longo da história deste Brasilsão. Por conta da censura, era uma missão impossível denunciar um governo. Bastava falar sobre alguma injustiça para o coro comer nos tempos áureos da ditadura.

A simples insinuação, às vezes, era mais forte que uma denúncia aberta contra o regime linha dura. As mazelas brasileiras ganharam trilha sonora por muitos intérpretes como Chico Buarque, Geraldo Vandré, Caetano Veloso, Belchior, Milton Nascimento…

Este Fla-Flu que a política brasileira atravessa nas últimas temporadas despertou o interesse de grande parte da população, incluindo o seu tio que manda aquela corrente sem noção no WhatsApp com memes da Dilma e do Lula.

Por mais que os ânimos políticos estejam à flor da pele, ver bandas falarem um pouco sobre o seu descontentamento político é válido, pois isso estimula discussões saudáveis (ou não).

Se você pensa em comprar tal marca de óculos ou bolsa ou tênis que o seu artista favorito usa ou decide pagar uma quantia graúda para ir num festival que a sua banda vai tocar, garanto que você dará um minutinho de atenção quando o músico decidir abordar algum assunto em voga como política.

A partir daí, é na conta do fã comprar este discurso, pesquisar sobre aquilo que o artista falou ou discordar.

Artistas brasileiros se posicionando…

Dentre os maiores nomes do rock tupiniquim, Roger do Ultraje a Rigor e outros velhos roqueiros como Léo Jaime e Lobão, fazem oposição ao atual governo. Eles engrossam o coro pela mudança da sigla que gerencia o país por mais de uma década e prisão imediata dos políticos envolvidos na Lava Jato e outras operações realizadas pela Polícia Federal.

Eu acho massa ter o lado que confronte quem está no poder. Sempre tem que ter alguma resistência. Não existe um modelo que agrade à todos. Porém, a militância desta turma é ferrenha e até assustou colegas da categoria como Dinho Ouro Preto: ‘É meio assustador ver todo o rock ficar de direita’.

Do outro lado da moeda, temos alguns artistas como Chico César, Elza Soares, Arnaldo Antunes e Tulipa Ruiz que entendem esta movimentação como golpe e deixam clara a sua posição. Um dos mais exaltados deste grupo é Tico Santa Cruz, que compra até briga em comentários de sua fã-page para defender suas ideias.

Quando a democracia e os direitos humanos balançam com ameaças vindas de uma imprensa tendenciosa ou de setores dorsais do governo, os artistas têm um poder muito grande nas mãos: o de mobilizar as pessoas através do seu talento maior, a música.

Em nossa história, a música sempre andou pertinho dos episódios políticos para traduzir o que, às vezes, era difícil de ser contextualizado. A música dá o gingado para embalar/engajar mais pessoas para sair às ruas e defender suas causas: batendo panela ou não.

É o que estamos vivendo agora. Nunca antes da história deste país tantos políticos estão sendo investigados e, se o roteiro for seguido, a regra do colarinho branco vai cair por terra. O dimdim terá que ser devolvido aos cofres públicos e quem foi mão leve vai ter de cumprir pena. Independente do partido, é muito importante ver artistas dispostos a gastar o seu tempo e tomar partido.

A pior parte disso é abrir algum site e ver que fãs de uma mesma banda estão saindo no tapa por causa de política. Foi assim no show dos Rolling Stones, no começo deste mês. Os roqueiros foram tocar em Cuba e bateu uma baita vergonha ao ler os comentários.  As pessoas estão no lugar para ver a banda de suas vidas, mas tudo cai por água baixo por conta de briga entre partidos e argumentos rasos como: “tu és um coxinha” ou “vai pra Cuba”…

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O jornalista paulistano, produtor musical e marketeiro Brunno Constante analisa, pondera, escreve e traz novidades sobre música no Papelpop todas as terças-feiras.

Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.

Quer falar com ele? Twitter: @brunno.

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