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Elza, Gal, Tulipa… A mulher na atual música brasileira
Em solo tupiniquim, temos grandes exemplos de empoderamento feminino espalhado por diversos segmentos musicais. Uns você vai curtir e sincronizar em seu celular e outros você vai deixar aquela mensagem bonita ali embaixo. Você pode até torcer o nariz para um batidão, mas tem que reconhecer o discurso de duas mulheres no funk que botaram a boca no trombone: Tati Quebra-Barraco ou Valesca Popozuda.
No comecinho dos anos 2000, a Tatiana quebrou um pouco do discurso do funk, onde as mulheres, normalmente, são submissas aos homens com letras sem metáfora alguma. ‘Eu vou tocar uma siririca e gozar na tua cara’ é uma das faixas que ela apresenta uma resposta, digamos, a altura do que alguns MC’s lançam por ai. Caso você não esteja por dentro, faça uma busca por funk proibidão no YouTube e vai sacar do que estou falando.
Um dos melhores discos do ano passado é o ‘Mulher do Fim do Mundo’, da cantora Elza Soares. Com um vozeirão potente com o de Tina Turner ou Beth Ditto, ela trouxe belas canções que falam sobre feminismo, violência doméstica, superação e outros temas que ela passou em seus quase 80 anos de vida. E ela passou por muita coisa. Caiu de paraquedas num matrimônio pela primeira vez aos 12 anos, teve seu primeiro pimpolho um ano depois, ficou viúva aos 21 e chegou aos holofotes internacionais na casa dos 30. É um belo álbum, um dos melhores da carreira da Elza e uma cartilha sonora sobre empoderamento feminino.
Tulipa Ruiz tem uma ótima mão para música pop. Foi assim com ‘Efêmera’, ‘Tudo Tanto’ e no seu último lançado no ano passado, ‘Dancê’. Este é um disco feito para fazer as pessoas dançarem e cumpre com o papel do que algo pop deveria ter. Você ouve uma vez e, quando vai ver, está cantarolando as cantigas batendo o pé no ritmo da música, incomodando os demais presentes. Ela acompanhada por uma baita banda, tem uma voz potente, mas a primeira coisa que chama atenção quando ela está no palco é que ela sempre está sorrindo. Pelo menos quando eu a vi pela primeira vez no palco, foi o que mais me chamou a atenção.
Como Elza Soares, Gal Costa é um dos patrimônios da música brasileira que esbanja um grande pique para lançar discos relevantes ao invés de ficar ancorada em trabalhos que marcaram época. Nada melhor do que arregaçar as mangas e criar um novo repertório para cair na estrada. Este é o ponto que Gal quis com este trabalho. “Não sou mais tola/ Não mais me queixo/ Não tenho medo/ Nem esperança/ Nada do que fiz/ Por mais feliz/ Está à altura/ Do que há por fazer”. São com esses versos que ela começou o disco ‘Estratosférica’, lançado em no meio do ano passado. Para criar este disco, a cantora trouxe artistas novos para colaborar com ela, como Jonas Sá e Céu, e alguns consagrados como Tom Zé, Caetano Veloso e Milton Nascimento. Ouça este disco e, logo na sequência, comece a desbravar a discografia de cinco décadas que ela tem. Fino.
Não é exagero, vivemos numa sociedade onde o machismo está enraizado e, aos poucos, está sendo quebrado com mulheres fortes como estas que apareceram no texto. Quando alguns assuntos ganham visibilidade como #AgoraQueSãoElas, #MeuPrimeiroAssédio ou #VamosFazerUmEscandalo vem à tona, homens e mulheres dizendo que o mundo virou algo chato e estamos vivendo em uma ditadura feminazi. O Brasil tem dados de violência contra mulher que crescem a cada ano, levar a sério estas tags e perder um tempinho ouvindo alguma banda ou funkeira que apareceram neste texto, só vai ajudar.
O jornalista paulistano, produtor musical e marketeiro Brunno Constante analisa, pondera, escreve e traz novidades sobre música no Papelpop todas as terças-feiras.
Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.
Quer falar com ele? Twitter: @brunno.