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“Joan Rivers deve ser reconhecida como exemplo de ícone feminista”, diz a escritora Camille Paglia

Não é um texto atual. Não é um lamento recente sobre a morte de Joan Rivers. Foi escrito pela intelectual escritora americana Camille Paglia no ano passado para comemorar o aniversário da comediante. Eu lembro de ler esse texto na revista The Hollywood Reporter e venho aqui recordar. Eu traduzo livremente as palavras da escritora, mas o original está aqui para quem quiser ler.

* Joan Rivers se irrita e abandona entrevista da CNN
Joan Rivers morre aos 81 anos

É sobre Joan Rivers, uma de nossas musas, heroínas, uma mulher genial. Assim como qualquer comediante sarcástico, irônico e de língua afiada, era uma pessoa extremamente inteligente. Vai deixar muita saudade. No livro “I Hate Everyone… Starting With Me”, por exemplo, Joan Rivers chegou a brincar que queria um funeral gamouroso: “Quero Meryl Streep chorando, quero que meu cabelo fique voando como o da Beyoncé”.

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Abaixo, as palavras de Camille Paglia, que descreve, analisa e coloca Joan Rivers no lugar que ela merece:

Joan Rivers é uma força da natureza. Sua voz cáustica, energia infindável e ambição continuam formidáveis, enquanto sua força a acompanhou através de altos e baixos da carreira e tragédias pessoais chocantes. Joan é a rainha dos “comebacks” e uma mestre de todas as mídias, tendo invadido todos os formatos: stand-up, o teatro, os filmes, os livros, os talk-shows, canais de compra, reality TV, rádio e internet. (…)

O relacionamento de Joan com a indústria do entretenimento continua não muito fácil: numa era em que o jornalismo pega leve com as celebridades, ela trata as estrelas com um deboche insistente quase cruel, como quando avacalhou Elizabeth Taylor e Kirstie Alley sobre o peso de ambas. Suas brigas (como aconteceu com Johnny Carson) são infâmes.

Mas desde a época greco-romana, essa verdadeira sátira serve para picar e morder. Joan também é má com ela própria, admitindo seu complexo de inferioridade no sexo e suas inúmeras cirurgias plásticas (“Eu já passei por mais reconstruções que Bagdá”).

Nascida no Brooklyn e criada em Westchester County, Joan Alexandra Molinsky se formou na Phi Beta Kappa da Faculdade de Barnard em 1954. Ela teve alguma experiência de trabalho em publicidade e moda até descobrir que sua vocação de comediante nos cafés do Greenwich Village nos anos 60.

Depois da Segunda Guerra Mundial, eram os comediantes judeus – Lenny Bruce e Mort Sahl – que transformavam o stand-up com comentários sociais, um legado do ativismo político judaico nos movimentos de sindicalização e direitos civis. Antes disso, stand-up era apenas uma sequência de piadas inofensivas. Bruce também tinha uma verve beatnik, que ele usava para deixar a audiência totalmente desconfortável, assim como o teatro avant-garde.

Nos anos 50, a única mulher que ousava fazer stand-up era Phyllis Diller, que se vestia de palhaça com uma peruca medonha para apagar qualquer indício de apelo sexual, mas sua linguagem corporal era tão fria quanto a de seu mentor, Bob Hope. Joan Rivers, por outro lado, pegou a avacalhação e o jeito ranzinza de Lenny Bruce e transformou tudo numa jornada hiperativa em cima do palco, onde soltava provocações abrasivas. Ela criticava a audiência quando esta ficava sentimental ou hipócrita e insistia em sua missão como comediante ao ser um veículo de duras verdades: “Please. Can we talk?”

O que Joan representa é o poder da voz, que ela desenvolveu há anos antes de Betty Friedan co-fundar o National Organization for Women. Mulheres judaico-americanas (incluindo Friedan) já tinham uma franqueza e audácia surpreendente, criando o esterótipo étnico estridente da “Jewish seagull (gaivota judaica)”. Joan pegou a gaivota e a transformou num leão.

Apesar de sua aproximação auto-depreciativa da beleza feminina a colocar em desacordo com o movimento feminista, Joan deve ser reconhecida como um exemplo de ícone feminista. Tudo que ela diz ou faz, até mesmo quando usa seu instinto matador para o marketing e publicidade, é sobre poder pessoal e independência feroz. Sua ética de trabalho por si só é uma inspiração constante.

Que Joan Rivers é um gênio da comédia é indiscutível. Joan tem um ouvido melhor que muitos poetas da atualidade, com ritmos vigorosos do Inglês moderno. Profana, irreverente e destemida, Joan Rivers é uma lenda em seu próprio tempo.

Alguns vídeos para relembrar:

“A comédia precisa de mim”, no vídeo abaixo:

Dizendo para o amigo comediante Louis CK que o que eles fazem não é comédia, mas sim um “chamado”:

Falando a já clássica piada de que a vagina dela está muito seca:

Musa do tapete vermelho treinando para o mesmo:

Com David Letterman, depois daquela entrevista polêmica na CNN:

E uma compilação dos melhores momentos de Joan Rivers no Fashion Police:

Descanse em paz, Joan Rivers! A gente vai continuar relembrando de você, rindo com você e admirando sua coragem, verdade e avacalhação para sempre. :)

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